Crítica: ‘The Office’ (versão australiana, 2024) – 1ª temporada – Amazon Prime

Para quem não sabe: a série “The Office” com Steve Carell é a versão norte-americana da série original britânica criada por Rick Gervais e Stephen Merchant, ou seja, é também um remake. Mas é aquele caso raro onde o remake consegue ser ainda melhor do que o seu material de origem, e entregar algo singular e hilário para o público.

Já no original, Rick Gervais mudou a comédia ali no começo do século com seu “The Office” provocativo e que abraça um estilo de humor que lida com o desconforto de um escritório e seu chefe sem nenhum tipo de noção. A versão norte-americana tentou seguir o estilo de humor britânico na primeira temporada e estava sem rumo e cambaleando nas intenções, porém, quando Carrell se tornou um astro após o sucesso do filme “O Virgem de 40 Anos”, eles abraçaram o DNA norte-americano e entregaram uma série que lida com os mesmos temas, mas que expande o desconforto sem deixar de criar conexão dos personagens com o público – além de, enfim, encontrar o rumo certo para sua audiência. Os atores coadjuvantes da versão dos EUA são marcantes, mas o grande pilar da série tem nome: Steve Carell como o chefe Michael Scott é a força motriz que faz tudo funcionar à perfeição, e o ótimo texto do show colabora para tornar seu personagem uma figura ao mesmo tempo sem noção, mas também um sujeito apenas bobo que só quer ser amado por todos. É algo tragicômico que resulta em vários episódios geniais e inesquecíveis.

E eu precisei falar do “The Office” norte-americano primeiro pois esta versão australiana disponibilizada recentemente pela Amazon se inspira totalmente na série estrelada pro Carell. A distribuição dos personagens, e até mesmo as características de vários deles são diretamente tirados da configuração norte-americana. A chefe encarnada por Felicity Ward é a versão feminina de Michael Scott; Edith Poor interpreta a versão feminina de Dwight Schrute, sempre com um jeito estranho de falar e obececada por regras e em mandar em todos; temos também o RH com cara de cansado que sempre está questionando os planos malucos da chefe; e a dupla bonitinha do escritório, encarnados por Shari Sebbens e Steen Raskopoulos, são a nova iteração do casal Pam e Jim. Além de outros personagens que recriam as dinâmicas da versão dos EUA que se tornou, sem dúvida, a mais popular e influente.

E talvez por tentar ser tanto o “The Office” norte-americano, esta versão australiana se ofusca e perde o seu brilho. Em minha opinião, se a ideia é fazer uma nova série “The Office” (como está atualmente acontecendo na própria terra do tio Sam), o ideal seria mudar o estilo de escritório e apostar em personagens com personalidades originais e que não tentam emular aquilo que já deu certo – a comparação será inevitável e só vai prejudicar o resultado final. O criador da versão norte-americana, por exemplo, está desenvolvendo um novo “The Office” mas vai levar o escritório para uma redação de jornalismo, mudando totalmente a ambientação e oferecendo liberdade criativa para formular personagens novos.

Com possibilidades de criar escritórios diferentes, e personagens insanos distintos, infelzimente este “The Office” australiano soa apenas como um repeteco pálido da série norte-americana. Não chega a ser péssimo, mas é esquecível e, particularmente, não muito engraçado.

The Office/AUSTRÁLIA – 1ª temporada – 2024

Criado por: Julie De Fina e Jackie van Beek

Com: Felicity Ward, Edith Poor, Shari Sebbens, Steen Raskopoulos…