Não espere de Keir Starmer, eleito premiê britânico, e seu Partido Trabalhista uma mudança de postura em relação ao Brexit, embora ele tenha sido um defensor da permanência do país na União Europeia, durante o referendo que aprovou o divórcio.
No último dia de campanha, ao ser questionado se haveria chances de o Reino Unido aderir novamente ao mercado único, à união aduaneira e à livre circulação de pessoas no espaço europeu, ele respondeu com um rotundo “não”.
O novo primeiro-ministro fez, há alguns anos, campanha para o segundo referendo, mas desta vez prometeu deixar intacta a resolução do divórcio com a UE e seguir o slogan trabalhista “Faça o Brexit funcionar”. Ele se mostrou aberto, contudo, a uma reaproximação e a alcançar melhores acertos com o bloco europeu, mais eficazes do que “o acordo malfeito que Boris Johnson conseguiu”.
A chegada do trabalhista Sir Keir —como é chamado por ter o título de cavaleiro— à chefia do governo britânico encerra a era de cinco mandatos conservadores.
Aos 61 anos, o premiê conseguiu, em quatro anos, reinventar o partido, deslocando-o para o centro. Ele herda uma economia combalida, com graves problemas no serviço de saúde pública, e tem pouca margem de manobra para solucioná-los.
Plano de 100 dias
Seus assessores dizem que ele tem pressa para executar um plano de 100 dias para amenizar algumas das mazelas que afligem e desencantam os britânicos: a contratação de 13 mil novos policiais, a criação de 8 mil empregos de professores e a redução das listas de espera para o Serviço Nacional de Saúde. Starmer está disposto a aumentar impostos específicos para cobrir os gastos, que ultrapassariam 1,3 bilhão de libras (cerca de R$ 9 bilhões).
“Ele vai querer agir rápido nas áreas em que pode fazer uma diferença inicial. Domesticamente, ele quer introduzir uma agência doméstica para aproveitar o setor de energia; ele vai cobrar IVA sobre escolas particulares para ajudar o setor estatal”, afirmou o comentarista britânico John Kampfner.
Starmer deve designar pela primeira vez uma mulher para chefiar a política econômica: Rachel Reeves promete reformar o Tesouro e estabelecer novos critérios sobre controles de empréstimos, para evitar o financiamento de gastos diários. Ela anunciou para o próximo ano uma revisão de gastos em todo o governo.
Termina votação para novo parlamento no Reino Unido
No início da semana, o novo premiê britânico deverá ser festejado em sua estreia no palco internacional, em Washington, onde participará da conferência que marca os 75 anos da Otan, ao lado do presidente Joe Biden, de outros líderes da aliança atlântica, e do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Seus pares terão a chance de constatar o estilo próprio do primeiro-ministro: Starmer é prático, nada carismático e discreto por excelência.