Os resultados oficiais das eleições foram divulgados no início desta sexta (5) e confirmaram as pesquisas de boca de urna.
Com o resultado, Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, se tornará o novo primeiro-ministro do Reino Unido. Veja quem ele é.
Mais do que uma vitória dos trabalhistas, estas eleições foram sobre o naufrágio dos conservadores. Políticas, crises e escândalos nos governos “tories” — como são conhecidos os conservadores — desde 2010 formaram o cenário atual.
Muitos eleitores culpam os conservadores pela lista de problemas enfrentados pela Grã-Bretanha, desde derramamentos de esgoto e serviço de trem pouco confiável até a crise do custo de vida, crime e a chegada de migrantes cruzando o Canal da Mancha em botes infláveis.
Os conservadores de centro-direita assumiram o poder durante a crise financeira global e venceram mais três eleições desde então.
Mas os últimos anos foram marcados por crises como Brexit e da Covid-19, além da economia lenta, alta da inflação, serviços públicos em declínio e uma série de escândalos. Isso tornou os tories alvos fáceis para críticos da esquerda e da direita.
Motivos
Veja abaixo mais algumas das grandes questões que levaram os conservadores ao naufrágio:
- Escândalos: O partido foi manchado pelas repetidas falhas éticas dos ministros do governo, incluindo festas durante o lockdown em escritórios do governo. Os escândalos afastaram o ex-primeiro-ministro Boris Johnson do cargo e, finalmente, do Parlamento após ser descoberto que mentiu aos legisladores. Sua sucessora, Liz Truss, durou apenas 45 dias após suas políticas econômicas arruinarem a economia.
- Economia: A Grã-Bretanha tem lutado com alta inflação e crescimento econômico lento, que se combinaram para fazer a maioria dos britânicos se sentir mais pobre. Os conservadores conseguiram controlar a inflação, que desacelerou para 2% no ano até maio, após atingir o pico de 11,1% em outubro de 2022, mas o crescimento permanece lento, levantando questões sobre as políticas econômicas do governo.
- Imigração: Milhares de requerentes de asilo e migrantes econômicos cruzaram o Canal da Mancha em botes infláveis frágeis nos últimos anos, desencadeando críticas de que o governo perdeu o controle das fronteiras da Grã-Bretanha. A política de assinatura dos conservadores para parar os barcos é um plano para deportar alguns desses migrantes para Ruanda. Os críticos dizem que o plano viola o direito internacional, é desumano e não fará nada para impedir pessoas fugindo de guerras, conflitos e fome.
- Saúde: O Serviço Nacional de Saúde britânico, que fornece assistência médica gratuita a todos, é atormentado por longas listas de espera para tudo, desde cuidados dentários até tratamento contra o câncer. Os jornais estão cheios de histórias sobre pacientes gravemente doentes forçados a esperar horas por uma ambulância, e depois ainda mais tempo por um leito hospitalar.
- Meio ambiente: Sunak retrocedeu em uma série de compromissos ambientais, adiando o prazo para acabar com a venda de veículos de passageiros movidos a gasolina e diesel e autorizando novas perfurações de petróleo no Mar do Norte. Os críticos dizem que estas são as políticas erradas num momento em que o mundo está tentando combater as mudanças climáticas.
Derrota histórica conservadora
A votação nesta sexta (4) representou uma derrota histórica para os conservadores. Com 131 assentos, segundo projeções, eles devem cravar o pior resultado em termos de cadeiras no Parlamento desde que começaram a se chamar Partido Conservador, na década de 1830, sob Robert Peel. O pior resultado conservador até então era de 156 assentos, em 1906.
“Se esta pesquisa de boca de urna estiver correta, então esta é uma derrota histórica para o Partido Conservador, uma das forças mais resilientes que já vimos na história política britânica”, disse Keiran Pedley, diretor de pesquisa da Ipsos, que realizou a pesquisa de boca de urna, à Reuters.
“Parecia que os Conservadores iam permanecer no poder por 10 anos e tudo desmoronou”, completou.
As urnas fecharam às 18h (horário de Brasília). As pesquisas de boca de urna dão apenas um indicativo da apuração dos votos, ainda em andamento, mas o cenário já havia sido antecipado por sondagens de intenção de voto, que indicavam vitória trabalhista com folga.
Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista e favorito para se tornar primeiro-ministro, vota em Londres, em 4 de julho de 2024 — Foto: Maja Smiejkowska/Reuters
Starmer agradeceu aos eleitores após o fechamento das urnas. “A todos que fizeram campanha para o Partido Trabalhista nesta eleição, a todos que votaram em nós e confiaram no nosso Partido Trabalhista reformado – obrigado”, disse Starmer em publicação no X (antigo Twitter).
Veja abaixo os números de cadeiras conquistados por cada partido, segundo a pesquisa da Ipsos/BBC News/ITV News/Sky News:
- Partido Trabalhista (centro-esquerda): aumenta de 205 para 410 assentos (205 a mais)
- Partido Conservador (centro-direita): cai de 344 assentos para 131 (213 a menos)
- Partido Liberal Democrata: aumenta de 15 para 61 (46 a mais)
- Partido Reformista (extrema direita): aumenta de 1 para 13 (12 a mais)
- Partido Nacional Escocês: cai de 43 para 10 (33 a menos)
- Partido do País de Gales: sobe de 3 para 4 (1 a mais)
- Partido Verde: sobe de 1 para 2 (1 a mais)
- Outros: 19 (sem alteração)
Veja abaixo um panorama sobre as eleições legislativas no Reino Unido:
Como funciona a eleição?
O Reino Unido está dividido em 650 distritos eleitorais e há 650 membros na Câmara dos Comuns –o Parlamento britânico. Os eleitores de cada um destes distritos vão eleger um deputado para representar os moradores locais. A maioria dos candidatos representa um partido político, mas alguns são independentes. Não há primárias ou segundo turno, apenas uma única rodada de votação em 4 de julho.
A Grã-Bretanha usa um sistema de votação “first past the post”, o que significa que o candidato que terminar no topo em cada distrito será eleito, mesmo que não obtenha 50% dos votos. Isso geralmente cimentou o domínio dos dois maiores partidos, conservadores e trabalhistas, porque é difícil para partidos menores ganharem assentos a menos que tenham apoio concentrado em áreas específicas.
Eleições no Reino Unido: britânicos vão às urnas em votação que irá determinar primeiro-ministro
Como é escolhido o primeiro-ministro?
O partido que comandar a maioria na Câmara dos Comuns, sozinho ou com o apoio de outro partido, formará o próximo governo e seu líder será o primeiro-ministro. O líder do partido com o segundo maior número de parlamentares se torna o líder da oposição.
O rei Charles III tem um envolvimento formal nesse processo: ele pede ao líder do partido com mais parlamentares para assumir o posto de Chefe do Executivo e formar um governo.
Isso significa que os resultados determinarão a direção política do governo, que tem sido liderado pelos Conservadores de centro-direita nos últimos 14 anos. O Partido Trabalhista, de centro-esquerda, é amplamente visto como estando na posição mais forte.
Últimos primeiros-ministros do Reino Unido — Foto: Bruna Rocha Azevedo/g1
Por que a eleição foi realizada agora?
Embora a maioria dos observadores pensasse que a votação aconteceria no outono, Sunak apostou em uma eleição de verão, esperando que boas notícias econômicas o ajudassem a convencer os eleitores de que as políticas conservadoras estavam começando a funcionar.
Os comentaristas estavam especulando sobre o momento da eleição há meses, porque o mandato parlamentar estava programado para terminar em meados de dezembro. Embora cada parlamento seja eleito por até cinco anos, o primeiro-ministro pode convocar uma eleição sempre que for mais vantajoso politicamente.