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Golpe do falso sequestro: como estudantes chineses no exterior se tornaram alvos do crime

A embaixada emitiu um alerta depois que Kai Zhuang, um estudante chinês de 17 anos que era considerado desaparecido, foi encontrado em segurança em um acampamento improvisado no deserto de Utah, em 31 de dezembro.

Os pais de Kai disseram a funcionários da escola do filho que receberam um pedido de resgate e uma foto do jovem indicando que ele havia sido sequestrado.

Segundo a polícia, as vítimas de sequestros virtuais são manipuladas para se isolar e até para tirar fotos dando a impressão de estar em cativeiro — apesar dos supostos sequestradores não estarem presentes.

Nesse processo, a vítima é monitorada através de aplicativos como Facetime e Skype.

Tanto a vítima como as suas famílias são convencidas de que o outro lado será prejudicado se não obedecerem.

Os pais de Kai foram induzidos a transferir cerca de US$ 80 mil (R$ 390 mil) para contas bancárias na China, segundo a polícia local.

Por que estudantes chineses são visados?

Estudantes chineses em vários países ocidentais estão sendo alvo de “sequestradores cibernéticos”, segundo as forças policiais.

Em setembro de 2023, a Equipe de Coordenação contra Fraudes da Polícia de South Yorkshire, no Reino Unido, emitiu um alerta para que estudantes estrangeiros indo morar em Sheffield, no norte da Inglaterra, ficassem atentos.

A polícia afirmou que os golpes miravam principalmente estudantes chineses de faculdades em todo o Reino Unido.

A vítima recebe uma chamada de um golpista que afirma estar falando da embaixada chinesa, da Imigração, da Alfândega ou da polícia chinesa.

É dito que há uma investigação de crime internacional em curso e, por isso, a vítima deve transferir grandes somas de dinheiro para uma conta na China, com a suposta finalidade de verificação.

A polícia de South Yorkshire afirmou que os golpistas usam ameaças para fazer a vítima a cooperar — em alguns casos, sem contar a ninguém sobre isso.

Na Austrália, a polícia de New South Wales (NSW) alertou em outubro de 2023 que esquemas de “sequestro virtual” estavam ficando cada vez mais sofisticados.

O detetive superintendente Joseph Doueihi, da polícia de NSW, disse que os golpes têm origem na China continental.

Os golpistas enganam e forçam as vítimas a desempenharem o papel de alguma autoridade chinesa e depois abordam outra vítima.

“Esses golpes fizeram com que as vítimas fossem coagidas a viajar para outro Estado ou para o exterior”, disse Doueihi em uma entrevista coletiva, citando viagens para a Tailândia e Camboja.

A emissora Australia Broadcasting Corporation (ABC), citando a polícia de NSW, disse que só em outubro houve três casos em que jovens com idades entre 20 e 23 anos foram contatados por redes criminosas se passando por autoridades chinesas.

As vítimas foram forçadas a pagar até US$ 338.880 (R$ 1,6 milhão) sob a ameaça de que seriam deportadas para a China para supostamente responder à acusação de terem cometido um crime.

Numa ocorrência, um homem de 20 anos morando em Sydney foi algemado e coagido a embarcar num voo interno na Austrália para entregar “documentos oficiais” em nome da polícia de Xangai a outras vítimas em Adelaide e Victoria.

A família do homem foi coagida a pagar mais de US$ 135.730 (R$ 660 mil), porém se recusou a fazer isso e contatou a polícia de NSW.

Em 2020, a polícia de NSW emitiu um alerta após pelo menos oito casos confirmados de “sequestro virtual” — com mais de US$ 1 milhão pagos em resgates por sequestros que nunca aconteceram.

Um caso ocorreu em abril de 2020, num subúrbio de Sydney, onde a polícia de Ryde foi informada de que familiares de uma estudante chinesa acreditavam que ela tinha sido sequestrada e pagaram US$ 203.300 a uma pessoa que alegou ser da polícia chinesa.

A mulher foi encontrada segura em casa um dia depois.

Em agosto de 2023, o Japan Times informou que alguns estudantes chineses no Japão foram chantageados por golpistas em circunstâncias semelhantes.

Num caso, os pais de uma estudante chinesa transferiram US$ 42.300 (R$ 200 mil) para uma conta chinesa depois de receberem uma fotografia onde a sua filha parecia ter sido agredida.

Mais tarde, descobriu-se que a estudante havia recebido uma ligação de uma pessoa que afirmava ser um agente de segurança chinês.

A pessoa disse à estudante que um mandado de prisão havia sido emitido contra ela e que ela deveria encenar um sequestro falso para que seus pais pagassem o dinheiro necessário para que ela escapasse da detenção.

As forças policiais estão pedindo que estudantes chineses fiquem atentos às chamadas que recebem, verifiquem qualquer pedido “oficial” junto ao consulado local e informem à polícia se perceberem que estão sendo alvo de algum golpe.

De acordo com o Federal Bureau of Investigations (FBI, a polícia federal dos EUA), os “sequestros virtuais” são conhecidos há pelo menos duas décadas.

O golpe pode assumir muitas formas, mas é sempre um esquema de extorsão que induz as vítimas a pagar um resgate para libertar um ente querido, que acreditam estar sob ameaça de violência ou de morte.

É pedido um resgate rápido — antes que o esquema seja exposto.

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